sábado, 28 de agosto de 2010

Clarice Lispector (Fantástic)

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

Peso do Mundo

Hoje acordei transformada minhas costas doíam, minhas pernas queimavam, quando abri os olhos tudo estava embaçado, estranho...olhei pro lado tentando me mover e não conseguia, parecia que o estrado da cama junto ao colchão tinha se afundado, mas não era um afudar de coisas mofadas antigas e vazias, parecia um abismo remoto de escuridão. Afundará de uma forma tão voraz que não conseguia me mover...
Toquei numa superfície úmida, será que após tantos anos desgarrados da infância eu havia umidecido os lençóis de urina? Que estranho não consigo apalpar meu glúteo, ai minhas mão queimam..pisquei meus olhos ainda embaçados por uma névoa, minhas mãos pareciam ter se modificado, crescido ou coisa do tipo, nos meus joelhos havia uma casca grossa coberta de uma meleca branca com aspecto grudendo...a cada centímetro de procura cega eu notava uma ferida, uma grosseira, uma urticaria, não conseguia ver o que era e nem me mover.
Sentia o tempo correr em minhas veias, por dado momento o tempo passará tão veloz que as dilatações na pele sobressaíam, o que ocorreu enquanto eu dormia?
Mal conseguia respirar, mas ao mesmo tempo parecia que o ar do meu quarto percorria por todas as minha entranhas, sentia minhas narinas abertas, expandidas como na história de chapeuzinho vermelho... Vermelho...vermelho é sangue e parecia que este já não mais havia em mim, apenas as melecas brancas e gosmentas de aspecto e cheiro ruim.
Senti uma pontada na minha coluna que estirou até meus longos pés, longos? Quando foi que eles cresceram?
Meus olhos... Eu não estaria ali parada sem conseguir ver por ver? Senti algo a me dilacerar, senti uma navalha em minha fronte me cortando me afundando naquele velho e amofado colchão. Busquei ver o que era, mas a dor me cortará os sentidos, não suportava mais gritar em silencio.
Gritei!
Parecia que uma claridade se adentrava através da fresta da porta, não ouvia som de lá, apenas conseguia ver aquele clarão.
Parecia a morte, mas não era ou será que foi?
Através da fresta de luz pude observar uma superfície imensa em cima de mim, que coisa orrenda parecia ter algumas sombras, pessoas grudadas, no meio daquela superfície arredondada havia a meleca, a grande meleca branca e gosmenta. Que nojo disto tudo, como pesa essa superfície, ai que dor horrenda.
Ouvi um barulho parecia que alguém gritava por socorro e a cada grito parecia que minha visão clariava, eu estava voltando a ver o que se estabelecia ao meu redor, tentava aguçar meus ouvidos para aquele som mais nao conseguia, um grande vento, a porta se abriu a luz tomou o meu corpo e pude identificar as coisas.
Acordei. Não, não era real apenas havia dormido com o peso do mundo em meus ombros e a unica coisa que sobrará foi o meu sangue.