Apoiado em um muro cru em cimento, uma vertigem afoitando o amago. Cabeça recostada em um mini pedregulho pontiagudo, acochando os pensamentos e dilatando minhas pupilas. Cabelos lambidos e escorridos como água fria, mãos tenes, frias e suadas. Vestimenta precária, sapatos com boca de anfíbio alargadas pela jornadas severa de faixas intermitentes.
Recostado, passante comum. De memória curta, sem armazenamento suficiente para tamanha amargura e contrarrupturas de laços. Severo olhar que observa o vazio de sua própria mente, não consegue ter lembranças, sensações, nem ao menos aflições da escuridão. Sua mente é corroída por pedregulhos arenosos como sua pele.
Busca formas de se criar cicatrizes as imensas feridas, coaguladas, nos coágulos muitos mosquitos, presos em um sangue morto, fedentino.
O tempo cruel de um verão a pino entrelaça suas mazelas e maresias. Vira-se de costa e esfrega vagarosamente sua face nos pedregulhos do muro mal acabado, raspa sua pele como se banha-se em água corrente todas as suas características, vivencias, formas, sentimentos e sentidos. Lava-se sem pudor todo o corpo em meio as frestas de reboco, as pupilas lacrimejam as gotículas de sangue que escorrem por entre sua face. Depila-se com voracidade, customiza seus traços, lavando também o muro com seu sangue, estende as mãos em palmas, a escorrega devaneando e trocando as digitais.
As pupilas aos poucos vão voltando ao normal, ascende um cigarro, rasga as barras das calças e nasce um novo ser, pronto pra ser dilacerando nos muros novamente.