domingo, 17 de outubro de 2010

Matutino

Mesmice diagnosticada.

Acordes desafinados, de supostas canções castigadas pelo tempo.
Ao fundo um grito de repressão que ecoa dentro de mim.
Culpado ou Inocente?
Em torno às grades de mim, esboço um plano.
Ao cavar meu buraco percebo que já existe.
Vagarosamente caminho em espaços, falta de luz.
O susto foi mortal, senti como se houvera me matado.
Mas, não. Apenas despertei de um sonho profundo e de rotina.






PERIGO

Porque tentar preencher lacunas?

Aqui quem escreve é o erro e o acerto. Acerto de falhas e erros de sorte.
Não acredito em mim.
Magôo-me a todo tempo.
Ouço pingos d’água.
Está tudo tão quieto, ta tudo tão calado.
Eu estou aqui a sós comigo, presenciando a destruição.
No meu corpo deveria estar escrito: DANGER.
Cuidado não se aproxime. Cuidado...
As luzes piscam, o tempo retrocede e Buuuuuuuuuuummmmm.

Começo, Meio e Fim...

Lembra quando eu disse pra sempre?



Acabou...


Lembra quando você disse que eu era única?


Não sou...


Lembra quando do alto gritou por mim?


Silenciou...


Lembra quando sonhávamos com nosso canto?


Desencantou...


Lembra que tudo era cheio de algo?


Esvaziou...


Lembra dos nossos beijos?


Azedou...


Lembra?


Findou...

Abismo

Olhando seu sono e sonhando seu sonho, mal percebo teus olhos abertos.



Os lábios adormecidos, as mãos num envoltório fetal. As pernas semi-flexionadas, semblante tranqüilo, anjo.


Respiração profunda, batimentos cardíacos controlados, cabelos longos.


Saio dos lençóis amassados.


O som do atrito de meus ossos te acorda.


Não, não. Não abra os olhos.



Eles me mostram a verdade.

Boneca de Pano

Eu tinha uma boneca, era minha preferida. O nome dela era Sapeca.

Talvez em demasia clichê, agora que cresci.
Mas, se você pudesse voltar a ser criança, voltaria?
Crescer dói. Amadurecer às vezes passa do ponto.
Talvez a minha única preocupação antes, era não posso ficar de castigo.
Queria poder lhe ninar, te colocar num carrinho de boneca e passear contigo.
Por longas tardes conversávamos, tomávamos chá, falávamos de meninos. Lembra daquele com cabelo “tijelinha”? Os olhos pareciam pedaços roubados do céu.
Só você sabia meus segredos, só você cuidava de mim.
Cadê você?
Cabelos loiros, pele branca, olhos azuis, bochecha rosada, mãos pequenas, vestidinho rosa, pano.
Os retalhos que sobraram de uma precocidade não desejada.
Cá estou a lembrar de ti.
Pena que meu mundo ficou grande demais para você.