segunda-feira, 2 de abril de 2012

Julieta

Criatura sombria de vasto despudor, percorre as mazelas escuras e viela sujas de fedor. Se arrasta por entre os escombros de sua falsa moral, dilacera as entranhas figurativas da escuridão, morbidamente observa os felinos grunhidos da penumbra, brinca com a morte, cria subterfúgios fedentes e utiliza dos feromônios noturnos.
Ora e quem não se presta a tal comportamento por desmedidos momentos? 
Essa que arrasta a esquina por entre seus fortes fios de vida, que repousa em qualquer superfície, que supera a própria alteridade do espelho, comete crimes em demasia e se flagela a toda hora. Contando com a pura ingenuidade de apenas viver a vida, que irônico, que despretensão, criatura lamentável, ao mesmo que torna a sua passagem carimbada, se deixa amordaçar pela hipocrisia de Shakespeare. Não estou criticando a obra do grande poeta, apenas ressaltando as fatalística vida dessa criatura, que deseja amar, amar perdidamente, que deseja ser, ou pensando melhor, ou não ser, independente da questão. Aquela criatura que procura um Romeu, um Romeu dos romances que não existe que foi contado, que foi criada e inventada. Essa Julieta é apenas uma brisa escura que acha poder percorrer todos os caminhos e no fim da trilha encontrar o furor da poesia. 
Pobre Julieta envenenada por um sentimento, ludibriada pela doce esperança Shakesperiana. E a criatura leitora da teoria, esperava que Julieta respirasse e em longo e profundo beijo se envenenasse pelo amor, sim o amor que cria asas e fabrica vulcões. Mas, a erupção causada pela morte venceu a criatura.