quinta-feira, 28 de abril de 2011

Tempo



Canadá, 1970 ao som de Janis Joplin.
Copo de whisky, mesa de centro, pano branco, cigarros e penumbra.
Poeira rompendo a fresca de luz que se faz através da janela, gotículas de água escorrendo pelo vidro manchado por suas digitais, marcadas intensamente em meu vidro transparente.
Deito-me lentamente em meu sofá floral desbotado por suas cores, mesa de centro, um respiro, pano branco, fechar de olhos forçados, zonzeira, viagem, relaxar.
Vento, som intermitente de gotas, visão turva, fumaça, som hipnotizante.
Levanto-me encosto minha cabeça em minha transparência e procuro minhas digitais nas tuas...
Olhe-me, decifre-me, se alimente Summer time.
Olhe para mim, não, não, não chore. Só tenha uma Boa noite.
Olhos vermelhos, mesa de centro, whisky, pano branco, respiro, movimentos lentos, suador gelado, cabeça peada, dormência, reencostar, leve, frio, som perturbador em meus ouvidos, frieza, risos.
Canadá, 1980 ao som de Janis Joplin.
Copo de Whisky, mesa de centro, pano branco, cigarros e penumbra.
Muita Chuva em meus estilhaços de vidro transparente, suas digitais se foram junto a meu sofá floral desbotado pelas suas cores, paredes vazias, meu escarro de verão se fora é tempo de uma boa noite e muito choro.

Procenio



Frio na barriga, sensação de perda, vontade de gritar e silenciar aflitamente. Mãos suadas, voz tremula, sopro de vida, mente vazia, suavidade dos olhos e o som de sua voz cada vez mais distante.
Ao longe um fio de luz, claridade excessiva que me incomoda, me ludibria, me encanta. Iluminado meus passos e os teus.
Conhaque para aquecer a alma, véu de seda, joelhos prostrados, intenso fervor, olhar levemente cerrados, mãos unidas.
Fronha com sangue, lençóis vermelhos de raiva e um leve sussurrar de prece.
Abajur, luz amarelada, cheiro úmido enferrujado, assoalho de madeira, som macabro e medo.
Choro alto e contínuo, respiração acelerada, prece, respiro, suspiro, prece, prece, prece, cansaço, fadiga, suor, sangue.
Caminhar cansado, frio, pés que tocam o chão em mórbido caminhar. Furacão inebriado de rancor, ódio, raiva, perda, desamor.
Pausa dramática, suspiro profundo, olhar distante, febre interna, distancia, solidão, quarto vazio, olhar suspenso à frente, leve torcer de face e saída de cena.