“Volúpia, a solidão efêmera do que pertenço é parte
do diagnostico nostálgico da minha criação. Os gritos de dor do ser encarnado
em perda. Somente a “cura” da ausência pode distanciar a enfermidade da alma.”
Quem sou? A pergunta é outra, quem fui?
Amarelo com azul, a cor se resulta em verde,
vermelho com preto é marrom, a cor do tronco, da terra, ou seria do lodo.
Fincando os pés ao sólido me torno o tronco de mim, o arado da colheita, mas me
perco entre tantos tons de cinza que marcam a minha caminhada de perda...
Laranja, vermelho com amarelo, sumo, cheiro é a única coisa que lembro o cheiro
do que era, o aroma infantil da crença, o cheiro da vida, azul, somente azul e
branco, o céu, sim o meu céu era assim, nuvens brancas primárias e um estupendo
anil, celeste, por várias vezes na aurora da manhã firmemente tentava
observá-lo, mas seu brilho era tão forte que não conseguia permanecer de olhos
abertos, franzia a face com força, abria de leve as pálpebras e o espionava, me
gerava um aquecimento, os poros iam se abrindo, os pelos se esticando como se
quisessem se comunicar com aquele calor, as luzes coloridas, azul, amarelo,
branco, laranja se misturavam a minha pele, aos meus olhos, se formavam rasgos
luminosos no céu, dividiam as cores, invadiam o anil celeste e o transformava
em explosão de cores quentes, ah o ar invadia o brilho dos olhos, era tudo tão
transparente. Transparente é isso, a cor da transparência, que cor é essa? Não
sei, só consigo me lembrar que não sou mais assim; Eu conseguia ver essa
transparência, eu fui essa cor.
Chega não quero mais me lembrar.
Ah como eu desejo minha transparência de volta, era
tudo tão bonito, singelo... Não eu não sou mais anil, transparente. A mistura
de cores me arremessa a escuridão, o preto, preto cinza escuro, escuro, negro,
sombra, ausência de luz... O preto no branco, o cinza da ausência, da transparência,
falta de energia, parafina derretida sem pavio.
Tatear lento, medonho, o receio de tocar, que cor é
essa parede? Seriam azuis, como os
passarinhos que cantavam o desafinar da aquarela, não, não pode ser é palha,
que se mistura e se faz um ninho, sim é proteção, mais de que? De que me
protejo? Tem cheiro de poeira, fuligem, queimou, se queimou é preto, outra vez
preto, mas é ausência de cor, de luz, preto, eu quero ver, que cor são essas
paredes? Verde, como o tapete da entrada, bem vindo é verde, não deve ser já
fico sem esperança, verde, verde amarelado, o sol tocou e amarelou o verde,
talvez seja uma parede sobreposta com várias tintas, várias cores, por isso não
consigo ver...
Um cigarro, café, fogo, brasa, laranja, amarelo,
vermelho. Fumaça... Branco com cinza, o que deriva? Preto, preto, preto. Preto,
esquece é preto. O verde, o amarelo, sim
um amarelo esverdeado, isso existe? Existe sim é musgo, musgo? Se for musgo tem
água, úmido se for úmido é transparente, sim transparente, água é transparente.
Pele, toque, cheiro, sorriso, quente, vermelho,
vermelho paixão, me beija? Eu te amo! Claridade, muita cor, gosto de saliva, é
claro! O amor é transparente, trás pássaros de muitas cores, borboletas, frio
na barriga, vazio, vazio? Um vazio cheio, de muitas cores, é lindo, sorriso,
abraço, calor, sol, o amor é lindo, transparente.
Sorriso, outro cigarro, café, café é marrom, fogo,
brasa, laranja, fumaça, o amor virou fumaça, lado direito vazio, esquerdo
vazio, frente vazio, trás vazio, qual é a minha cor? Que droga, escuro, medo,
acabou, preto, preto, preto novamente preto. Preciso de ar, respirar, minha
cabeça dói, ar, ar é transparente, não dá para ver, como sei que é
transparente? Transparente é cor? Não sei, eu não sei... Que cor é
transparente? Todas?
Medo, medo, medo, fecho os olhos tudo preto, meu
labirinto gira entre as cores, estou tonta, me encosto, parede, que cor é essa
parede? Saliva, é já sabe, é pele, amor, minha cabeça... Cabelo, só preto, não,
não, saliva, devagar, olhos castanhos, isso marrom, cheiro é muitas cores,
muita cor;
Devagar, fogo, brasa, café, cigarro, fumaça, um
trago. Fumaça, outro trago. Branco, sugar, vermelho, pontas pretas, fumaça,
preto, cinza e o transparente? Eu já fui assim, não é? Então eu sei,
transparente é cor? É eu sei que é mais qual?
Eu fui, preto, branco, verde, amarelo, azul,
laranja, marrom, vermelho, palha, palha é um amarelo claro, ta enfim... Já fui
castanho, preto, amarelo esverdeado, verde amarelado, branco, nuvem, cinza,
fumaça, saliva, saliva não é cor, ar, ar é transparente.
Transparente linha imaginaria de cores, não tem
cores, ausência de cores, cor que não existe é nada. Transparente é cor, cor nenhuma,
sorriso, conclusão, transparente é nada, cor de nada.