Portas cerradas, brutalmente atracada ao batente, maçaneta em estado precário, fechadura tapada com solda, forte, não quero ser o dono da verdade, não quero dizer que esta seja a maneira de consertar as coisas, mas não quero roubar as badaladas de tempo que ainda me restam, talvez essa seja a forma de me resguardar de omissões do que já fui, ou do que quiseram que eu fosse, ou quem sabe ainda do que me tornei.
Os temporais efêmeros que ocorrem aqui em minha insignificância, são meus, eu não deixarei ninguém usurpar, posso me reservar no direito de questionar a vida, ou de não me sentir satisfeito com ela. Eu não sei nada de mim, não sei nada de coisa alguma, mesmo assim insisto em disseminar minha opinião, posso me sentar e observar os riachos se transformarem em correntezas e me descobrir sem luz, na escuridão. O vazio que ocorre aqui dentro é tão cheio, que pesa, se transforma em toneladas de anseios e vômitos. Uma ânsia tão grande, que o estomago desdobra e se transforma em dobres de agonia, como se tivesse mais coisas a serem expelidas. Sinto que o céu se abre na escuridão da tempestade, que o vento se enfurece, que a alma gela, que as paredes rangem e que a verdade desaparece como a brisa leve da primavera, as estações mudam com uma voracidade que não há percepção de folhas secas ou gelados ares.
Me encolho e um canto e me permito perder entre horas, minutos, medos, distancia e falsas verdades. Eu quero cair no abismo e não quero que seja obstruída por nada, eu quero voar, não tenho mais tempo para esperar, pois na verdade a porta sempre esteve aberta, saí...A porta não existe, quero voar de volta pra mim.