segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Cheiro do Ralo

Não conseguia dormir. Emergia e Submergia algo que me inebriava.
Gerava-me imenso incomodo.
Parecia circular por todos os cômodos, tratava-se de uma onda escura, negra.
Soltava meu corpo por entre os lençóis e instantaneamente fechava a "fuça".
De bruços sufocava-me, de lado abafava-me, pés apontados para o céu e braços a angulo de 90°.
Flexionava as pernas, reter, com muita força meus membros, fugia daquele odor.
Parecia que havia habitado com os corvos. Carniça pura, carne podre.
Debatia-me, podia escutar o escoamento de algo líquido, talvez fosse o limbo de minha face demarcada.
Apertava-me e sufocava-me sem ar. Suspirava fundo, inspirava e aspirava pela grande mordaça.
Prendia a respiração por segundos e baforava no ar. Afagava-me por debaixo da coberta, contraia-me e nada fazia parar tal cheiro ou fedor.
Os olhos marejados por um líquido seboso ardiam-me a ponta das narinas.
A garganta já estava embargada não conseguia me concentrar precisava respirar para isso.
Por horas permaneci esfregando-me contra os lençóis e a coberta. Em pausado ressonar de ar.
Puxava o mínimo de ar por entre minhas narinas, como se fosse um rato a farejas comida, incisivamente contraia em intervalos de segundos.
Movi meus pés para o chão ascendi à luz e comecei a farejar como um animal por sua presa, suspirava e prendia o ar com toda a força, abria minha fronte como se rasgasse todo o ar.
Movia-me mais de pressa quando sentia a aproximação do fedor.
Em minha fronte parecia ter um buraco imenso para entrada e saída de ar.
Cheguei próximo a latrina e encontrei minha presa.
Que odor desgraçado vinha de tal.
Aproximei-me abordei meus dejetos, levantei os braços ferozmente e puxei a descarga.
Suspirei fundo e fui dormir.

domingo, 17 de outubro de 2010

Matutino

Mesmice diagnosticada.

Acordes desafinados, de supostas canções castigadas pelo tempo.
Ao fundo um grito de repressão que ecoa dentro de mim.
Culpado ou Inocente?
Em torno às grades de mim, esboço um plano.
Ao cavar meu buraco percebo que já existe.
Vagarosamente caminho em espaços, falta de luz.
O susto foi mortal, senti como se houvera me matado.
Mas, não. Apenas despertei de um sonho profundo e de rotina.






PERIGO

Porque tentar preencher lacunas?

Aqui quem escreve é o erro e o acerto. Acerto de falhas e erros de sorte.
Não acredito em mim.
Magôo-me a todo tempo.
Ouço pingos d’água.
Está tudo tão quieto, ta tudo tão calado.
Eu estou aqui a sós comigo, presenciando a destruição.
No meu corpo deveria estar escrito: DANGER.
Cuidado não se aproxime. Cuidado...
As luzes piscam, o tempo retrocede e Buuuuuuuuuuummmmm.

Começo, Meio e Fim...

Lembra quando eu disse pra sempre?



Acabou...


Lembra quando você disse que eu era única?


Não sou...


Lembra quando do alto gritou por mim?


Silenciou...


Lembra quando sonhávamos com nosso canto?


Desencantou...


Lembra que tudo era cheio de algo?


Esvaziou...


Lembra dos nossos beijos?


Azedou...


Lembra?


Findou...

Abismo

Olhando seu sono e sonhando seu sonho, mal percebo teus olhos abertos.



Os lábios adormecidos, as mãos num envoltório fetal. As pernas semi-flexionadas, semblante tranqüilo, anjo.


Respiração profunda, batimentos cardíacos controlados, cabelos longos.


Saio dos lençóis amassados.


O som do atrito de meus ossos te acorda.


Não, não. Não abra os olhos.



Eles me mostram a verdade.

Boneca de Pano

Eu tinha uma boneca, era minha preferida. O nome dela era Sapeca.

Talvez em demasia clichê, agora que cresci.
Mas, se você pudesse voltar a ser criança, voltaria?
Crescer dói. Amadurecer às vezes passa do ponto.
Talvez a minha única preocupação antes, era não posso ficar de castigo.
Queria poder lhe ninar, te colocar num carrinho de boneca e passear contigo.
Por longas tardes conversávamos, tomávamos chá, falávamos de meninos. Lembra daquele com cabelo “tijelinha”? Os olhos pareciam pedaços roubados do céu.
Só você sabia meus segredos, só você cuidava de mim.
Cadê você?
Cabelos loiros, pele branca, olhos azuis, bochecha rosada, mãos pequenas, vestidinho rosa, pano.
Os retalhos que sobraram de uma precocidade não desejada.
Cá estou a lembrar de ti.
Pena que meu mundo ficou grande demais para você.


sábado, 9 de outubro de 2010

Eu

Estritamente frio,
a minha mente gela.
Dentro de mim, congelados.
Sol nascente, de brasa.
Começa a minguar água.
Casquinhas de d'gelos.
Nascimento de fogo,
misturado a vestigíos
humanos.
Estrutura pequena,
olhos pequenos,
mente pequena,
de esclarecimentos.
Mãos fortes, pele fria
e coração quente.
Nascido em 09/10/1984.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A Menor máscara do Mundo!


Estrutura montada, lona hasteada, cores e luzes prontas.
Todo o cerimonial estruturado, tudo pronto para o grande espetáculo.
Figurinos prontos, limpos e vamos ao grande ritual.
Coloco as calças verdes, grande samba canção.
O casaco amarelo de ombreiras altas, gravata que chora.
Uma enorme falange de cores fortes, grande bico pontiagudo.
Um retoque final na lapela do paletó, uma rosa pequenina.
A máscara começa a ser formada, lápis desapontado.
Um risco branco em torno da boca, lábios vermelhos.
Pó compacto de sonhos e formas.
Sobrancelha preta, que termina na ponta dos dedos.
Um leve rosar de face tímida.
Iris, profunda e brilhante.
Olhar firme de alegria.
E o "gran finale",
Minha alma.






A Margem


Saltei em fundo, saltei e afundei.
Senti algo através de mim, estava dentro de mim.
Salvaria a minha alma, há mim.
Seguia as bolhas, através de mim.
Salutava comigo.
Submergia de mim, algo.
Solitário em um envoltório.
Soterramento de asfixia.
Selvagem dentro de mim.
Sufocado pelas entranhas
Suspirei fundo
Sorrateiramente vi minha vida afogando-se.