quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Tsunami



Cheguei em casa correndo, joguei as roupas pela cama e corri em direção ao banheiro. Abri a torneira e deixei a água cair, senti como se todo aquele limbo escorresse pelo ralo, percebi que ao esfregar a minha pele havia uma camada grosseira, parecia uma espécie de tinta.

Quanto mais esfregava minha pele mais saia um limbo...

Dia chato, sem graça parecia até que a monotonia se tornava uma doença, sentia que meus movimentos estavam vagarosos e pesados. Imagine um peso brutal?

As minhas mãos queimavam, ardiam como fel, parecia uma corrente de vasos limbosos.

Bati o carro... Tropecei na mesa, ouvi barulhos ensurdecedores, meu coração estava acelerado, minhas pernas latejavam. A cada minuto que se passava, eu me sentia mais mórbida e suja, um calor desgraçado, pessoas chorando, crianças gritando, pedras batendo e aquela brisa seca esturricada que se estendia usava meu cérebro como ponto de chegada.

Por um momento escutei um pingo d’água.

Silenciou tudo, mas o pingo não voltará. Pensei em retroceder o tempo, mas a vontade era maior que a memória que já falhará aos fatos. O dia se estendia feito névoa de poeira num envoltório de ar quente, as pessoas pareciam cair nas ruas de tão seca que elas estavam.

As lágrimas daquele choro viraram pó, não escoriam lágrimas e sim grãos de areia. Todos pareciam estar apressados para chegar, o mar se cessara, as pessoas corriam da ventania de poeira que cegara os olhos...

Mas, um silencio.

Escorria pela parede certa água terrosa, meio liguenta não se escapava das entranhas sozinha, os canos de suas estruturas jorravam tal demência. Parecia loucura o deserto que se instalava.

Cheguei numa esquina e pude ver uma criança aos berros procurando por sua mãe, peguei em sua mão e o carreguei até um posto policial, mas não havia policiais lá apenas estátuas de pedra. Nesse momento a criança saiu correndo assustada, movi meus braços para tentar alcançá-la percebi o quanto meus movimentos eram fragmentados.

Não havia som molhado em lugar algum.

Cheguei em casa correndo, joguei as roupas pela cama e corri em direção ao banheiro. Abri a torneira e deixei a água cair, senti como se todo aquele limbo escorresse pelo ralo, percebi que ao esfregar a minha pele havia uma camada grosseira, parecia uma espécie de tinta.

Aquela tinta arenosa fora se espedaçando a cada gota d’água que caía sobre mim, sentiu-me lavada, molhada num tormento tão existencial de orgasmática situação. Algo escorrerá por minhas pernas e aquele silêncio se tornou uma cachoeira em meu corpo.

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