quinta-feira, 2 de maio de 2013

Alcatraz


Meu coração bate em meio a um cercado de arame farpado, a pressão arterial é tanta que acontece um expurgo sanguíneo das feridas coaguladas. Bate na boca o gosto do medo, escorre pelos tecidos a insegurança.
Oh, bela máquina de desintoxicação supérflua, máquina que produz em si o medo, repete medo, medo, medo, batendo ao som de medo, de falha de medo.
Os olhos de condenação, os olhos de repressão, solta fagulhas de fracasso, abre-se ao redor com mágoa, o beijo da face angustiosa, quanto sangue, quanto medo, a terrível lembrança do afago, do amor, da respiração livre...
A liberdade que se torna um alcatraz, imensas grades, latrinas sujas, fedor de morte, comida como pus, alimentos alienado e solitário vazio da mente criminosa. Não, não há crime, somente um mero artifício para se sentir, ou justificar, o líquido fidentino de cor escura que escorre por entre as vias arteriais, o sangue do bem misturado ao tóxico do mal, venoso.
O coração range silenciosamente, o sangue já está rarefeito, o cérebro da máquina não coordena mais o raciocínio, a lógica vira ficção, transforma-se num cenário de Hitch Cock formando a Red House em Black, num envoltório de fumaça sempre muito utilizada pelo mestre das grandes telas.
A máquina que trabalha incansavelmente pelo torpe do Trash, a estrutura montada por inoxidáveis aços interligados ao sangue reintegrando os medos em sua prisão, o alcatraz do espelho, a cerca de arame farpado que lhe envolve estilhaçando suas entranhas e lhe tornando prisioneiro dentro de um roteiro. 

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